Ainda não é inverno, mas o vento frio lá fora bate na janela
com a força de quem tem algo a dizer. Já faz algum tempo que durmo e acordo
sozinho. Cercado por paredes de concreto e olhando para um teto que mais se
parece alguém apontando os meus erros. A solidão me visitou, me abraçou e
conversamos por horas como dois amigos que não se viam há muito tempo. Solidão
é uma coisa estranha, aqui fora está tudo cheio, as vozes, as flores, as
risadas, as amizades, mas aqui dentro o vazio é ensurdecedor. Só que para
preencher o vazio de dentro; o que procuro não está do lado de fora.
O pensamento voa e eu não pude reparar o quanto a solidão
rouba o tempo. Na mesma hora que dá vontade de ficar longe, quieto, com o
coração pequenino, enjaulado em grades invisíveis, dá vontade de correr, de
gritar e procurar respostas que eu sequer sei as perguntas. Muitas pessoas passaram por aqui durante esse tempo.
Trouxeram todo o tipo de coisas. Mas não trouxeram a cura para a invisibilidade
que a solidão trouxe em um embrulho não tão bonito.
A solidão assusta, mas ela também ensina. É uma chance de se
encontrar com você mesmo, de se conectar com o interior, de nos conhecermos
melhor, de saber o que vale a pena, de sermos nossa melhor companhia. A solidão é uma oportunidade de conhecer esse
vazio interno e de arrumar a casa. A paz interior é a melhor aliada para
enfrentar qualquer guerra.
Mas um certo alguém nunca deixou de me visitar enquanto eu
estive só. E esse alguém sempre me diz coisas boas sobre a vida e me dá forças
para poder seguir. Me ensinou que o que vem de fora, vem para somar, e não para
preencher o vazio de dentro. Que a solidão é um processo de autoconhecimento e
crescimento. Às vezes você tem que levantar sozinho e seguir em frente. E esse
alguém é feliz, tão feliz que às vezes também se esquece de que uma hora vai se
sentir só.
Mesmo com uma certa
insônia e com os olhos já cansados de escrever, eu decido tentar dormir e me
dar a chance de sonhar com algo bom. E esse alguém, que esteve o tempo todo
aqui me observando da poltrona, decide me acompanhar. Ele tem um sorriso tímido
no rosto onde se enxerga que as dificuldades da vida que, apesar de muitas,
nunca foram o bastante para assustar aquele coração. Ao me olhar no espelho
para escovar os dentes, me reconheci. Esse
alguém sou eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário