Misturei cloridrato de sódio com doses bem aplicadas de carência e mais um tanto de obsessão. O resultado foi um estrondoso barulho de explosão. Levou tudo, destruiu o laboratório do meu coração! Tive que pensar, refiz todos os cálculos. O que haveria de estar errado? Olhei bem. O X da paixão posto ao quadrado, bem ao lado da soma do cateto com a hipotenusa, resultou em falta de reciprocidade. Continuei...
Montei
uma nova expressão numérica, infalível. Somei o dobro da minha
entrega com a ideia que eu tinha feito do amor, apliquei a fórmula
de beijos e amassos escondidos em becos escuros, deu tesão. Mas
tesão não é amor. Prossegui.
Voltei
ao laboratório e enfiei um novo elemento no frasco: medo. Esse eu
consegui depois de muitas tentativas de combinações que falharam.
Ao jogar o medo, a coisa toda se anulou, não deu em nada. E eu pude
experimentar que medo não combina com amor, o amor é para os
corajosos, concluí. Parei,
pensei em desistir, lavei os frascos, fechei o laboratório,
abandonei os cálculos. Fiz a coisa que todo empirista deve fazer em
algum momento depois das falhas, antes da resposta, refleti.
O
que eu estava fazendo de errado? Se sempre vi todas essas substâncias
sendo empregadas como amor? Que fajuto. Me ensinaram um amor
ciumento, egoísta, possessivo, obcecado. Nas novelas que vi,
pessoas abriram mão de tudo em virtude do parceiro. Nos livros que
li, submissão era a palavra. Me ensinaram um amor que se resumia aos
amassos e desejos frenéticos, nada mais. Me ensinaram isso e aquilo,
mas nenhum deles sabia o que era o amor.
Li
muitos livros do assunto, tentei me embasar em teorias. Encontrei
alguém que me disse em linhas que o amor não existia, que era uma
soma de interesses, apenas. Não me conformei e nem tentei misturar
os interesses procurando amor. Sabia que amor não era interesse. Voltei
ao trabalho, e num "bum" de ideias fiz um novo cálculo,
uma nova fórmula, uma ideia de amor. Exatamente, era esse o meu
erro: eu buscava a criação de um amor ideal que também estava
errado, que ora ou outra, derramaria dos meus frascos e tomaria algo
do meu laboratório recém-construído.
Que
diabos, então, era o amor? A palavra? O toque? Uma junção. Saí
desnorteada. Decidi voltar para casa, mas perdi meu lar. Agora, sou
só eu. No caminho, me encontrei, mais velha, um ar sábio, quase não
me reconheci. Ao meu jovem ser, entreguei o que mais procurava, num
saquinho pequeno, sementes para plantar.
Finalmente, entendi.
O amor que eu procurava não estava na exatidão e nem na minha forma de idealizar.
O amor era semente, tive que plantar.
Finalmente, entendi.
O amor que eu procurava não estava na exatidão e nem na minha forma de idealizar.
O amor era semente, tive que plantar.
NATH SOARES
Uma menina-mulher, brasiliense, perdida nos sonhos e achada no meio das palavras. Escreve desde que aprendeu a unir letras para formar mensagens. Por ironia, cursa Letras, talvez para se entender. Ama a escrita, mas mantém paixões como violões que não sabe tocar, corações que não acha a porta e a saudade, que preza pela inspiração que lhe traz. Coleciona canecas, miniaturas e amores inacabados. Carrega vícios como café, livros, rock e MPB. De amor e romance, tem o ser inteiro.
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