► Para ouvir ao som de Photograph, Nickelback ◄
Hoje eu acordei e reclamei da vida. Na volta de um trampo reparei na moça que sorria de um jeito bobo ao olhar o céu. Tinha acabado de chover e as nuvens estavam começando a se dispersarem. Ela olhava para aquele azul que ia surgindo como esperança em um dia ruim. Foi um dos risos mais verdadeiros que vi na vida.
De certa maneira, aquele olhar pra vida - do riso daquela moça - despertou
algo em mim. Continuei o meu percurso sentindo o mundo, tudo aquilo que era
vivo e tudo aquilo que era sem cor. Tudo aquilo que era imóvel e todo
sentimento nos olhos de pessoas que eu sequer tinha cruzado. Reparei nas
modelos do outdoor, reparei nos garis que limpavam a rua entre uma piada e
outra, entre o dedo que limpava o suor do rosto e as mãos calejadas. Olho
novamente para as modelos do outdoor, olho novamente para os garis, modelos de
vida.
O semáforo fecha, eu precisei frear. Abri um pouco a janela para sentir
o vento. Então se aproxima uma criança andarilha e me entrega uma foto e um bilhete.
No rádio do carro começou a tocar Photograph do Nickelback, não manjo muito de
inglês, mas não preciso pra entender a primeira frase que o Chad diz na música:
“Look at this Photograph “, traduzindo, “ Olhe para esta fotografia. Podia ter
milhões de pessoas sintonizadas naquela mesma estação de rádio, mas aquilo era
pra mim, definitivamente aquilo era dito pra mim. A foto é de uma senhorinha, o
bilhete era dizendo que ela era sua mãe, tinha câncer e qualquer ajuda era
bem-vinda. Pensei em perguntar em qual horário ela estudava, mas por um
instante acabei desistindo.
A vida cobra algumas prioridades e com quem a gente ama elas são essenciais. E não acho nada justo julgá-la por isso. Peguei o dinheiro que tinha no console do carro e entreguei na sua mão. Ele me disse: Que Deus te abençoe. Aquilo chegou ao meu coração de uma forma que você não pode imaginar. Dizem que quando as coisas são de verdade, de certa maneira, a gente sabe. E eu soube. E eu senti.
A vida cobra algumas prioridades e com quem a gente ama elas são essenciais. E não acho nada justo julgá-la por isso. Peguei o dinheiro que tinha no console do carro e entreguei na sua mão. Ele me disse: Que Deus te abençoe. Aquilo chegou ao meu coração de uma forma que você não pode imaginar. Dizem que quando as coisas são de verdade, de certa maneira, a gente sabe. E eu soube. E eu senti.
O dinheiro não sobra muito, mas nunca faltou como eu às vezes reclamo. Pensei
nisso quando peguei uma foto de uma criança andarilha em um semáforo. Minha mãe
sempre disse que a felicidade está em enxergar o coração das pequenas coisas.
Isso começou a fazer sentido.
Tinha um moço empurrando um
carrinho de bebê. Tinha um moço empurrando uma vida que tinha acabada de
nascer. Uma vida que vai ter altos e baixos, que vai sorrir e vai chorar. Uma
vida que vai sonhar, que vai ter prestações da vida para pagar, que vai ter parcelas da vida perdidas
para ser aquilo o que sonhou e que vai ganhar uma vida inteira pra aprender a
ser feliz.
Continuei meu caminho. Vejo três pessoas esperando para atravessar a
rua. Todas manuseando um telefone celular. Muito celular na mão, pouco coração
na boca. A luz do combustível pisca. Preciso abastecer. O carro de combustível
e meu coração de esperança no ser humano.
Hoje eu acordei e reclamei da
vida. Talvez amanhã eu reclame de novo, mas no segundo após eu vou parar, olhar
o céu, reparar o mundo a minha volta e soltar um riso bobo. Em menos de um
segundo posso não estar mais aqui.
❁❁❁
Um pisciano romântico e cabeça dura. Palavras e músicas ditam sua ordem. Apegado aos sentimentos mais simples e completamente ligado à família. Fiel aos poucos e verdadeiros amigos. Acredita na força do amor e, principalmente, na necessidade de solidariedade.
Puta que me pariu. Que texto maravilhoso. Sem mais.
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