Arrumei a casa, preparei aquele arroz, separei o vinho. Tomei um banho, escolhi a minha mais bela lingerie e o meu mais lindo vestido, me perfumei e esperei a hora chegar. Deitei no sofá, algumas lembranças vieram à tona e, para minha surpresa, lembrei-me da vez em que o celular não tocou, o sono chegou e na sala mesmo eu apaguei.
Não! Daquela vez seria diferente. O celular iria tocar e eu iria ouvir: “abre a porta, estou chegando.” A gente iria jogar conversa fora, falar sobre as últimas novidades e a noite seria nossa. Mas não! Acordei e já passava das 21h00. Olhei o celular e ele não tinha tocado, não tinha mensagem. Olhei a minha volta e me belisquei. Não era sonho, você realmente não apareceu e eu já me perguntava quais seriam as novas desculpas.
Ali, decidi que eu não iria te procurar, eu não tinha motivos para isso. Eu nunca fui prisão, não te queria preso a mim, você era livre para seguir a sua vida. Me levantei. O ultimato estava dado e era hora de seguir em frente. Você não merecia as lágrimas que derramei, as noites que passei em claro olhando para o celular, nem os meus soluços abafados. Eu não merecia ser enganada e fingir que era normal.
22h30 — A noite estava começando, eu só queria dançar com a minha liberdade, fazer das mágoas purpurina, jogar pra cima e mostrar que eu nasci pra brilhar. Saí sem rumo, parei num bar, pedi um vinho, cada gole era um golpe — memórias que tentavam voltar —, mas a vida não queria isso de mim. Batom borrado e com o riso solto fui seguindo.
Mais um bar e mais doses de vinho. Encontrei com uma moça e a liberdade dela se parecia um pouco com a minha. Compartilhamos experiências e sorrisos, tombos e superações. As horam passavam depressa e eu já nem lembrava que o celular não tinha tocado. Eu não queira sair daquele bar, o movimento e papo ameno estavam aquecendo a minha alma. Me perguntei como era sair sem rumo e, logo em seguida, estar em um bar a dois quarteirões da minha casa. Eu não encontrei muitas respostas, eu só queria paz.
01h50 — A moça que estava comigo foi embora, deixou seu contato anotado num guardanapo, o coloquei na bolsa. Tomei uma última dose de vinho e fui para casa. Livre e leve, parecia flutuar. A minha alma vibrava euforicamente.
02h20 – Entrei em casa, deitei no sofá.
Acordei 10h da manhã, o sol raiava e iluminava a sala. A minha cabeça parecia pesar. Levantei, tomei um banho, vesti uma camiseta, e fiz um café bem forte e doce. Deitei no sofá, peguei o meu celular e lembrei que na noite anterior eu esperei uma ligação sua, mas o meu celular não tocou — venho te falar que eu te agradeço muito por isso.
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KAL LIMA.
Poetisa, uma baiana com a alma no mundo e os pés em um rincão incrustado no Sertão. Sou uma garota-mulher apaixonada pelos encantos que o amor traz. Falo muito, sinto muito, nas palavras encontro o meu cais, é o meu jeito de transbordar.