Eu tinha vinte anos quando tomei a primeira grande decisão que revolucionaria minha vida. Pensei estar dando a grande cartada e definindo eternamente os rumos que seguiria dali em diante. A gente sempre tem essa tendência de imaginar que grandes guinadas são eternas. Pus em prática. Durou exatos sete meses e tive que voltar à estaca zero.
Dei algumas voltas na vida e cheguei aos vinte e cinco. Decidi casar. Agora sim, ces’tfini, tudo está dito e feito. Disse sim ao padre e jogaram arroz no meu cabelo engomado de gel (relendo essa frase vejo que parece que casei com o sacerdote, mas não. Ah, vocês entenderam). A vida a dois, naturalmente, sofre mutações em seus sentimentos, mas a gente sempre pensa – ou tem a intenção de pensar – que é para sempre, quando na verdade o certo é ser infinito enquanto durar. Os poetas e os pagodeiros não erram.
Cruzei então a barreira dos trinta. Oi, Balzac. O que pode acontecer na vida de um homem de três décadas, estável e equilibrado emocionalmente? Na minha, julgava que nada. Com o passar do tempo, assimilei a ideia de que os acontecimentos estão aí para modelar o que sentimos e, uma vez petrificado, não há água mole que tanto bata no coração até que fure. E, de mais a mais, a estabilidade de um casamento sem fortes emoções pode não ser lá muito animadora, mas estamos cansados de conhecer pessoas que preferem mil vezes as voltas de um carrossel a terem que morrer berrando na efusão de uma montanha-russa.
Pois bem, sem mais nem menos a pedreira explodiu com toda a força. Dinamite pura. Não restou pedra sobre pedra. E eu, que já nem lembrava mais de como era pulsar de nervoso por causa de alguém, passei a ter taquicardia, sudorese nas mãos e uma angústia que não apertava o peito há praticamente dez anos.
O mais curioso disso tudo vocês nem sabem: eu gostei de sentir isso. Adorei me sentir vivo outra vez e fiquei mais feliz ainda ao constatar que meu empoeirado coração seria sim capaz de amar novamente. Cerrei os olhos, permiti que os pés saíssem do chão e deixei que o embalo desse sentimento passasse a governar os meus melhores e piores momentos.
Tem sido revigorante, claro que tem. Mas não há amor sem sofrimento e não há escolha sem renúncia. Quem perde as rédeas das suas emoções fica à mercê dos altos e baixos da supracitada montanha-russa e, meus amigos, os momentos de frenesi passam a flertar com os de desespero. A cada curva, a impossibilidade de adivinhar o que virá a seguir impede que saibamos o que vamos ou não sentir. É doido, é adrenalina, mas é tenso.
O mais irônico é que, no fim das contas, a ordem dos fatores não alterao produto. E eu, que não sabia de onde vinha e para onde iria, tampouco agora sei onde estou. Amar é, de qualquer forma, um tiro no pé. A gente apenas escolhe se vai ser com pistolinha de chumbo, ou com bala de canhão. Neste exato momento, estou usando lança-chamas. Arde e não se vê. Fernando Pessoa sabia das coisas. Morreu jovem. Eis o busílis.
OCTAVIUS, O GATO
Sou um gato de bigodes que ama. Mas o que é o amor? Entre outras coisas, ele também é anônimo às vezes. E é por isso que não estou aqui para dizer coisa com coisa. Não tente me entender, tampouco me julgar. Apenas ame comigo. Miau!
Uaaaaaaaaau!
ResponderExcluirAcho que não só no amor mas como na vida as coisas acontecem exatamente dessa maneira, a gente se acomoda e acha que tá tudo certo e que não há nada que possa mudar e de repente vem a vida e trás um vendaval que tira tudo do lugar e é ai que a gente se reencontra. É sempre bom percebermos o quanto estamos vivos novamente!
Beijos
Perfeito...sem mais!
ResponderExcluirPerfeito...sem mais!
ResponderExcluirsó não digo que esse texto é do caralho, gato, pq já li teus próximos :D
ResponderExcluirQue foda! Apenas isso.
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